Papo de servidor público estadual
Papo de servidor público estadual, em Minas Gerais. Na repartição mais pobre: - Fulano, eu odeio o Banco do Brasil. Muita fila, poucos caixas. É o inferno. Só venho no caixa para fazer um DOC, porque eu movimento o dinheiro no Itaú, eu não encerrei a conta. Na repartição mais rica: - Fulano, eu odeio o Banco do Brasil. Muita fila, poucos caixas. É o inferno. Só venho no caixa para fazer um TED, porque eu movimento o dinheiro no Itaú, eu não encerrei a conta. --- A década de 2000 foi a década de negar e esconder o presidente (e depois ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso. Ele tomou diversas medidas difíceis e impopulares, que muitas vezes tornaram as coisas mais difíceis no curto prazo, mas que se revelaram muito importantes no longo prazo. Recentemente parecer ter havido, porém, um FHC-revival. Da aproximação de Dilma ao ex-presidente à admissão do atual Ministro da Fazenda da importância dessas reformas, parece que o Príncipe está sendo reabilitado, e o que é melhor, em vida. Uma das medidas impopulares-mas-importantes foi a privatização dos bancos estaduais. Esses bancos muitas vezes serviam para acobertar a má política fiscal dos governos estaduais. O Banco do Estado de Minas Gerais - Bemge - era utilizado pelo governo estadual para o pagamento de seus servidores. Com a privatização do Bemge, em 1998, que foi arrematado pelo Itaú, os servidores passaram a ser atendidos por esse banco privado. O tempo passa, e a partir de 2008 o Banco do Brasil assumiu a folha de pagamento dos servidores estaduais de Minas Gerais. Nos termos da negociação, o servidor/correntista passou a dispor de um DOC/TED gratuito por mês, para fins de transferência de salário para a instituição bancária de sua preferência. O Itaú, para não perder todos os servidores que tinham conta no banco, passou a oferecer vantagens mil para quem mantivesse a conta. Assim, até hoje muitos servidores ainda têm conta no Itaú, embora não mais recebam por esse banco. Esse fato, junto com o atendimento abaixo de impecável do Banco do Brasil, faz com que muitos servidores, embora recebam pelo Banco do Brasil, prefiram movimentar seu dinheiro pelo Itaú. Tendo trabalhado e mesmo frequentado alguns ambientes variados dentro da administração pública estadual, já presenciei mais de uma vez um diálogo que descrevo abaixo, na fila do caixa eletrônico Banco do Brasil. Na repartição mais pobre: - Fulano, eu odeio o Banco do Brasil. Muita fila, poucos caixas. É o inferno. Só venho no caixa para fazer um DOC, porque eu movimento o dinheiro no Itaú, eu não encerrei a conta. Na repartição mais rica. - Fulano, eu odeio o Banco do Brasil. Muita fila, poucos caixas. É o inferno. Só venho no caixa para fazer um TED, porque eu movimento o dinheiro no Itaú, eu não encerrei a conta. --- Outro dia eu encontrei um cartão de visitas do Bemge jogado na rua. O cartão do fulano já tinha e-mail. Considerando que Internet no Brasil "começou" para o grande público em 1997, e que o banco foi privatizado em 1998, mostra que até que o Bemge estava atualizado nesse quesito... 
Escrito por Philipe às 07h32
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